quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Onde estão as suas memórias?



Lembro-me do dia que, após o sepultamento de minha avó, seguimos todos para sua casa, com o intuito de organizar seus objetos.
Surpreendentemente, toda sua vida material coube em uma única mala. Roupas,sapatos, cremes, algumas jóias e um livro de orações.
E agora, um ano depois, observo em minha volta. Diferentemente de minha vó, tenho uma necessidade de guardar minhas memórias. Parece impossível me desfazer de qualquer registro material daquilo que construiu minha história de vida.
Cartas, bilhetes de shows, papéis de balas e bombons apinham-se em caixas, guardadas sob o signo de preciosidades.
Tudo se mistura, e as manifestações visuais apontam como uma garantia de prova da minha passagem nesse mundo.
Ao mesmo tempo que valorizo a materialização de minha memória, transformo-as em vagas lembranças. E como já dito por outra pessoa, só lembramos porque esquecemos.
Minha avó guardou suas memórias lá mesmo, no espaço destinado à memória. E permitia gentilmente que fizéssemos excursões a ela.
Ao sentar ao seu lado, era como se ela nos desse a mão e nos transportasse para os cantinhos mais escondidos, embora iluminados, de sua alma. Foi um jeito bonito de conhecê-la. Pra ela, não era preciso mais nada. E para mim, ao menos, também não.
Algumas pessoas, dizem que as memórias não são confiáveis, que elas podem ser modificadas. Eu particularmente, como neta, colecionadora de lembranças e historiadora, prefiro pensar que elas são reinventadas.
Tem uma aura de ficção, que torna tudo mais agradável, e até mesmo suportável.
Guardar um papel de bala ganhado do menino mais bonito da escola é selecionar aquilo que se deseja pra sempre lembrar. E como se quer lembrar.
A memória mais bonita, deve ser guardada no coração e não em uma caixa decorada. Deve manter-se iluminada em nossa alma. As memórias mais bonitas não devem ser lembradas, porque não merecem ser esquecidas.

Um comentário:

Tomou chuva e adorou!!!