quarta-feira, 11 de março de 2009

Lunário Perpétuo - Antonio Nóbrega



Meu lunário tem antigas

Alquimias de almanaque.

Já enfrentou intempéries,

Roubos, incêndios e saques:

Dos homens, das traças, das garras das eras.

Carrega segredos, decifra quimeras,

Venceu todos os ataques

O meu lunário perpétuo

Sob o sol é luzidio.

Meu lunário foi forjado

Num fogo de desafio,

Que vibra, esquenta, atiça, aperreia,

Faísca, enlouquece, que pega na veia.

Pelos séculos a fio.

O meu lunário perpétuo

Guarda as vozes seculares

Do profeta de canudos

E do mártir dos palmares,

Sonhando com o reino do espírito santo

Na terra, no céu, em todo recanto.

Nos terreiros e altares.

O meu lunário perpétuo
É meu livro precioso,

Minha cartilha primeira,

Minha bíblia de trancoso.

João grilo, chico, malazartes, mateus,

Os órfãos da terra, os filhos de deus,

Heróis do maravilhoso.

Meu lunário é a memória

De um país que vai passando
Diante dos nosos olhos,

Rindo, mexendo, cantando.

Mestiço, latino, caboclo, nativo.

É velho, é criança, morreu e tá vivo...

Presente, mas até quando?

Meu lunário é conselheiro,

Meu folheto, é meu missal,

Atravessando os milênios,

Cada ponto cardeal.

De norte a sul, de pai para filho,

De lá para cá, meu livrinho andarilho,

Fabuloso romançal.



-> Que fique a dica para se conhecer uma das jóias mais raras que já passou por esses Brasis!!!!!

Um comentário:

  1. Adorei o poema!! Tanto que fui atrás de saber quem é Antonio Nóbrega e agora tô louco pelo DVD do espetáculo. Não tem no Submarino... e agora???

    Eu queroooooooo!!!

    Beijos, amiga!!

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Tomou chuva e adorou!!!